Eclipse - Japão 21/05/2012
BRAVURA DE UM SANSEI BRASILEIRO
O Sansei paulista CLAUDIO KENJI HAYASHI, de 24 anos, residente na cidade de Hamamatsu, chegou ao Japão ainda criança, estudou na escola japonesa e concluiu a universidade em março de 2010. Foi orador oficial da turma entre 374 alunos. Na cerimônia de formatura, fez o discurso de agradecimento na presença do governador da provincia de Shizuoka, Kawakatsu Heita, do prefeito de Hamamatsu, Yasutomo Suzuki e demais autoridades presentes, inclusive a imprensa e emissoras de tevês que cobriram o evento devido à curiosidade de um brasileiro ser o orador oficial. O discurso com dois mil ideogramas foi escrito por ele próprio e fez referências ao movimento Dekassegui. Se formou em Cultura Internacional na Universidade de Arte e Cultura de Shizuoka (BENGEIDAI), sendo o primeiro brasileiro a ser admitido. Claudio preparou uma monografia de formatura sobre educação dos jovens brasileiros no Japão. Atualmente, trabalha em uma das maiores construtoras de imóveis do Japão. É um motivo de orgulho para a comunidade na qualidade de dedicação, diciplina e determinação. Ocorre que, na maioria, os estrangeiros conseguem terminar o curso ginasial com muita dificuldade, e são poucos que ingressam no colegial, tampouco em uma universidade. O sistema nas escolas japonesas é totalmente diferente ao do Brasil. No início e término das aulas, os alunos ficam na posição de sentido e todos em coro fazem a entonação apropriada. Notadamente são bem rígidos, significando forte influência do militarismo, prevalecendo uma forte tendência à cultura, tradição e a hierarquia, que forma uma complexidade que somente os nativos entendem. Enfim, superar todas as barreiras e dificuldades culturais, os costumes, hábitos e comportamentos, são uma constante incógnita aos estrangeiros. Se analisarmos a questão das crianças, mesmo superando, se adaptando, se integrando e mesmo com toda eloquência, jamais será igual, sempre será visto como estrangeiro, por uma coisa que não se adquire que é o “Kokoro”, a Alma, o Sentimento de japones.
A finalidade deste comentário não significa simplesmente elogiar o
Claudio, mas para que todos tenham conhecimento da sua garra e da sua impetuosidade.
Considerando que emigrou do Brasil ainda pequeno, ingressando na escola japonesa,
se deparando com uma língua completamente desconhecida e sem entender o que o
professor dizia, sem amigos e sem poder se comunicar com os colegas. Na
entrevista, confessa que chorou muitas vezes. Creio que muitas crianças
passaram ou passam pela mesma situação ou até pior, quando se deparam com o “IJIME”
(maus tratos). Consequentemente, o isolamento e a solidão ocasionam problemas
emocionais graves e psicológicos. O mesmo deve acontecer em qualquer país do
mundo, no entanto neste aspecto, no Japão notadamente a Secretaria da Educação combate
eficazmente, com a finalidade de acabar com estes tipos de comportamento.
Comentam que geralmente as crianças estrangeiras de personalidade forte,
arrojadas e decididas, poderiam superar essas atitudes e sobressaindo-se em
pouco espaço de tempo. Como o Claudio não renunciou a sua responsabilidade, começou a aprender o
japonês assistindo desenho animado pela televisão, como forma de aprender por
conta própria. Conta também o episódio no qual não queria mais ser brasileiro,
queria ser japonês, quando num acontecimento na biblioteca, os colegas pegaram
um monte de livros de português e jogaram na sua frente dizendo para ler
aqueles livros porque ele era brasileiro. Disse que foi um período difícil, mas
sabia que para superá-lo precisaria aprender melhor o japones. Lembrou que na
época de estudante, evitava jogar futebol, pois havia cobrança para que jogasse
como um craque, como um artilheiro, só pelo fato de ser brasileiro, motivo
pelo qual preferiu jogar vôlei. Outro detalhe interessante é a existência no
Japão da sala de reforço, que é destinada aos alunos estrangeiros com
deficiência no idioma na própria escola. Essas aulas geralmente são realizadas duas
vezes por semana. E ele recusava firmemente em frequentar essas aulas,
simplesmente porque se saísse da classe normal, ficaria atrasado em outras
matérias. Admitia que com reforço no idioma, atrasaria outras disciplinas e
recusava categoricamente a sair da classe,
indo aprimorar o japones em sua própria casa. Apesar da pouca idade,
justificava que caso se atrasasse nas disciplinas normais, não poderia se
inscrever no vestibular.
UM EXEMPLO
Enfim, um sansei paulista que não tem interesse por futebol, nem liga
para feijoada, mas gosta mesmo de quibe e de uma boa caipirinha, garantindo ser
brasileiro da gema, formou-se numa universidade no Japão. “PARABÉNS”, CLAUDIO
KENJI HAYASHI. Parabéns aos jovens que
conseguem transformar coisas ruins em suas vidas, os sofrimentos, em algo Positivo.
Para complementar, reconhecemos que o sistema de educação de Japão é exemplar. É uma
educação controlada (austera), mas inspirada no espírito de respeito, dignidade, estabelecendo a
importância e o valor aos estudos dando a relevância à integração escola- família -
aluno. A "PTA" (Parent-Teacher Association) tem um fator extremamente importante visando efetivamente ao
desenvolvimento da criança e uma participação determinante dos pais. Existem: Reunião
geral de professor e pais para falar a respeito da escola; Dia da visita dos
pais à escola participando das aulas; Professor
visita a casa do aluno e conversa com os pais sobre o aluno ; Reunião
individual em que o professor conversa com os pais e o aluno; Reunião de classe - reunião de pais e o professores para falar sobre os
alunos. É rigoroso a obrigatoriedade das crianças até 15 anos de estar ativamente na escola, assim tentam evitar
a evasão escolar mesmo aos estrangeiros e se eventualmente por algum motivo ausentar-se à aula e
não comunicar à escola, imediatamente a direção telefona para a residência do
aluno. Segundo um depoimento de uma mãe brasileira com três filhos, falando das
crianças que vão sozinhos à escola ou dependo do local, são acompanhadas de um
grupo de crianças moradoras próximas, sente certa segurança, pois considera que no Japão a
vida é muito tranquila. Outro motivo é a preocupação do governo em relação às
crianças estrangeiras, principalmente em locais onde há muita concentração, as
escolas possuem tradutores e intérpretes bilingues para melhorar o desenvolvimento,
acompanhando ao lado do aluno dentro da sala de aula facilitando o ensino, inclusive
o atendimento em salas de reforço, tendo a possibilidade de escolher previamente o horário
adequado. Atualmente, diversas instituições como ONGs, NPOs, HICE, JICE, etc. com
voluntários efetivamente trabalham em função de cooperação e ajuda para melhorar a
aprendizagem das crianças estrangeiras.