Os Filhos de
DEKASSEGUIS
Assisti ao documentário “ANDORINHAS SOLITÁRIAS” num festival de cinema
brasileiro que tinha como tema: TER NASCIDO COMO FILHO DE DEKASSEGUI. Recomendo
a todos que assistam mais pela questão da possibilidade para divulgação das situações
reais, principalmente em tomar conhecimento e entender um pouco deste movimento
chamado DEKASSEGUI. Na verdade, creio
que o filme demonstra apenas uma pequena fatia dos fatos reais marcantes, das enormes
dificuldades dramáticas em que envolveram as famílias e o destino destes jovens.
Porém no meu ponto de vista, talvez um tanto subjetivo, os acontecimentos são
bem mais chocantes, sacrificantes, porém, de certa forma compensável financeiramente,
em que muitos saem prejudicados, tanto os filhos como os pais por essa opção em
tentar como alternativa melhorar a situação de vida atual e futura, mesmo que
para isso sacrifique a separação da família, dos amigos e o estilo de vida. O
objetivo para muitos são quase a mesma. Tentar juntar o pé de meia e regressar
ao país em poucos anos, mas que acabam ficando cinco, dez, quinze anos.
O mesmo talvez dos nossos antepassados imigrantes que sofreram muito
mais que os dekasseguis atuais inversamente, sem poder ter alcançado o objetivo.
A mesma crítica que tiveram dizendo ter abandonado o país naquela época quando
o Japão passava dificuldades (pelo sonho de um dia retornar ao país
financeiramente bem) e ajudar a família, o país, existe mesmo dentro da
comunidade japonesa no Brasil condenando os dekasseguis desta atitude. Lembrando
que anualmente são bilhões de dólares que são remetidos ao país (antes da crise)
possibilitando a aquisição de imóveis e outros bens, pela bravura e esforços,
resultado de muito suor e lágrimas. Entretanto, que culpa teria se uma vez
aberta a possibilidade de resolver os problemas financeiros a curto prazo,
fazendo uma longa viagem e aceitando o trabalho de peão, sujo, pesado e
perigoso? Fora o problema de choque cultural, dificuldade na lingua e
preconceito. É certo ou errado? E aquelas pessoas que deixaram mulher e filhos,
pais, irmãos, após doze,quinze horas de trabalho, batendo aquela saudade da
família, como também os que estão com a família mas chega a trabalhar tanto que
muitas vezes nem sempre é possivel encontrar
o filho acordado (quando sai para o trabalho e quando chega encontra-o
dormindo). Entretanto obviamente quem está bem economicamente no Brasil
dificilmente tentaria este tipo de aventura, afinal o Brasil é o melhor país do
mundo para se viver, desde clima, a comida, o calor humano, a liberdade, povo
alegre, etc. (opinião particular), porém, em matéria de segurança e educação o
Japão pode se dizer que ainda é o primeiro mundo. Evidentemente irão perguntar
o porquê dessa atitude, mas, como cada caso é caso, e cada um sabe onde o seu
calo dói, conclui-se que é um direito traçar a meta, encarar, desafiar.
Aliás,
voltando ao assunto em matéria de cinema até uma longa-metragem seria
insuficiente se levarmos em conta por tudo que ocorre no cotidiano,
principalmente pelo envolvimento dos jovens que se movimentam entre as duas
pátrias, duas terras natais apesar de que onde ele for é considerado “gaijin”. Na
realidade a situação dos filhos de dekasseguis é muito complexa e de difícil
solução se analisarmos o rumo destes adolecentes. Qual será o futuro? E a
definição dos estudantes que ficam no vaivém nas escolas, ora no Brasil, ora no
Japão, numa ponte aérea sem entender as
línguas corretamente. E os jovens que contra sua vontade é obrigado a retornar ao Brasil com
os pais, mas que , passou a vida toda no Japão sendo quase um nativo, enfim
qual é a consequência ? Certamente é muito
doloroso.
A maioria dos japoneses com que conversei, disse que jamais tivera a
mínima noção do que acontecia, como também não teve a curiosidade em saber,
apenas criticava as atitudes e envolvimento dos brasileiros. Que culpa teria
estas crianças que crescem carente de carinho, afeto, com tanta gente
estressado, broncas, separação de casais, má alimentação, etc. Os pais ficam tão obcecados no trabalho, que
quando necessitam ausentar-se no serviço por motivo de filhos doentes , pois dependendo da época estão sujeitos a
dispensa (kubi). Nota-se sofrimento das crianças em querer acompanhar os
estudos no mesmo ritmo dos colegas japoneses mas sem condições e muitas vezes
discriminados. Existe também o drama do Bullying (Ijime) tão comentado
ultimamente. Bullying como todos sabem é uma situação caracterizado por agressões verbais ou
físicos por um ou mais alunos contra os colegas. Por ano são reportados mais de
70 mil ao Ministério da Educação do Japão e centenas de suicídios de
estudantes.
Apesar de Ijime ser coisa típica do Japão está em toda parte do mundo.
Na Inglaterra, por exemplo, numa pesquisa da BBC revelou que 70% dos estudantes
sofrem Bullying, enquanto outros 3,5 milhões de pessoas dizem serem vítimas do
mal no ambiente de trabalho. O que diferencia o Japão dos países ocidentais é o
temperamento das pessoas. Sofrer Ijime é sinônimo de vergonha até mesmo de
contar a família, e no desespero de implorar uma ajuda muitos recorrem ao ato derradeiro que é de
acabar com a própria vida. De qualquer forma, se o seu filho apresentar
dificuldades e houver suspeita ou preocupação quanto ao seu estado não demore
em buscar ajuda de um psicólogo para a obtenção de um diagnóstico mais preciso
e adequado ao seu caso. Atualmente, várias ONGs e o Ministério da Educação
oferecem consultas sobre Ijime, tendo até campanhas para eliminar ou mesmo
reduzir casos e as próprias escolas tem abertura para tratar destes problemas.
Também poderá, caso não tiver apoio procurar nos centros internacionais informações
sobre como proceder.